quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Buda e seu seu cérebro

julho de 2014
Christof Koch
Leshabu/Shutterstock

De maneira inesperada, tomei contato com o romance Sidarta, de Herman Hesse, de 1922, durante uma recente visita de uma semana ao mosteiro Drepung, no sul da Índia. Dalai Lama havia convidado representantes do Instituto Vida e Mente para apoiar experiências entre a ciência moderna e a comunidade monástica budista tibetana que vive em exílio no país. Reunimos um grupo formado por físicos, psicólogos, neurocientistas e um filósofo francês para conversar com monges e monjas budistas sobre assuntos como mecânica quântica, neurociência, consciência e vários aspectos clínicos das práticas meditativas. Fomos interrogados, investigados e, vez ou outra, gentilmente provocados por Dalai Lama, que se sentou ao nosso lado. Aprendemos muito com ele e com as pessoas ao redor, como seu tradutor tibetano Jinpa Thupten, doutor em filosofia pela Universidade de Cambridge, e o monge francês Matthieu Ricard, doutor em biologia molecular pelo Instituto Pasteur, em Paris, considerado o “homem mais feliz do mundo”, segundo extensos estudos neurocientíficos. E, segundo eles mesmos disseram, também aprenderam algo conosco.
Fatos e dados foram discutidos pelos representantes das duas formas de pensar o mundo. O objetivo? Trocar conhecimento e agregar o saber acumulado em mais de dois milênios de tradição oriental de investigação da mente, do ponto de vista subjetivo, a ideias ocidentais com base em descobertas empíricas recentes sobre o cérebro e o comportamento. A antiga sabedoria contribui – hoje não há dúvidas – com suas diversas técnicas de meditação para desenvolver atenção plena, concentração, percepção, serenidade, empatia, sabedoria e, espera-se, no fim, a iluminação. Para isso, o praticante deve, todos os dias, se sentar e permanecer tranquilo e ao mesmo tempo atento, deixando a mente estável antes de embarcar em algo específico, como atenção focada ou reflexão sobre a preciosidade da vida, a bondade e a compaixão. Somente após anos de exercícios contemplativos diários (nada vem fácil na meditação), os praticantes costumam alcançar considerável controle sobre a mente.
Em média 12 anos na escola, cinco na faculdade e mais alguns na pós-graduação não preparam nossos futuros médicos, psicólogos, soldados, engenheiros, cientistas, professores, contadores e demais profissionais para isso. Universidades ocidentais não ensinam métodos para amadurecer emocionalmente, cultivarmos estados mentais que nos fazem bem, controlar a mente e desenvolver paciência ou mesmo focar em um único objetivo ou numa atividade específica – algo extremamente útil tanto na área profissional quanto na vida -pessoal. Em geral, não há sequer aulas introdutórias sobre esses temas. E, obviamente, perdemos muito com isso.
Na verdade, estamos acostumados com a bagunça mental que compõe a vida cotidiana, caracterizada por excesso de informações, saltos entre imagens e fragmentos de discurso ou da memória. A concentração em uma linha de pensamento requer esforço deliberado consciente, é trabalhoso e geralmente tentamos nos esquivar dessa atividade. Preferimos nos distrair com estímulos externos – conversas, jogos, redes sociais e televisão, nos apoiando em recursos eletrônicos na tentativa desesperada de evitar realmente pensar e entrar em contato conosco.
No entanto, pudemos usufruir da presença de um homem de 77 anos que permaneceu sentado, com a postura ereta, durante seis dias, por horas a fio e com as pernas embaixo do corpo, acompanhando atentamente nossos argumentos acadêmicos. Jamais conheci alguém (ou um povo) que parecesse tão receptivo, satisfeito, profundamente feliz, sorridente e humilde como os monges, que, para nossos padrões, têm uma rotina de pobreza, privados de muitas coisas que a maioria de nós julga necessárias para ter uma vida plenamente realizada. O segredo parece ser o controle da mente.
O caso mais extremo de domínio de si talvez seja a autoimolação do monge budista vietnamita Thich Quang Duc, em 1963, para protestar contra o regime repressivo no sul do Vietnã. O fato mais impressionante e singular desse evento foi sua expressão calma e deliberada de seu ato heroico, capturada em fotografias e filmagens inesquecíveis e impressionantes. Enquanto queimava até a morte, Duc permaneceu na posição de lótus, em meditação. Ele não moveu um músculo sequer nem soltou qualquer som enquanto as chamas o consumiam, até que seu cadáver finalmente tombou.
Confesso que essa cena singular me deixa perplexo. Teria dificuldades em acreditar se tudo não tivesse sido capturado pelas câmeras de jornalistas pasmos e visto por centenas de testemunhas.
Mudanças neuroanatômicas
Um experimento recente, desenvolvido com base em técnicas de neuroimagem pelo psicólogo Fadel Zeidan e pelo neurobiólogo Robert C. Coghill, que coordenaram um grupo de cientistas da Escola de Medicina Wake Forest, fornece pistas para explicar esse extraordinário fenômeno. Os pesquisadores prenderam uma placa de metal à perna de 15 voluntários escolhidos aleatoriamente e os submeteram a monitoramento por escâner. Enquanto a temperatura do objeto variava de agradável (36,5ºC) a levemente dolorosa (49ºC), os participantes deveriam avaliar a intensidade e o desconforto do estímulo. Conforme previsto pelos cientistas, a placa quente provocou aumento da atividade hemodinâmica de estruturas envolvidas no processamento da dor, como o córtex somatossensorial primário e secundário, áreas relacionadas ao movimento das pernas, e de regiões frontais, como o córtex cingulado anterior e a ínsula.
Depois, os voluntários praticaram durante 20 minutos, por quatro dias, exercícios diários de mindfullness, um tipo de meditação em que é preciso manter a atenção focada, ou shamatha, na qual o praticante deve se concentrar nas alternâncias da respiração e observar pensamentos, imagens e lembranças que possam surgir sem, no entanto, se envolver emocionalmente. A ideia da shamatha é perceber os pensamentos, mas o praticante deve apenas deixá-los passar e voltar a atenção à respiração.
A desagradável sensação da placa quente tocando a pele foi amenizada depois que os voluntários começaram a praticar mindfulness – o desconforto geral diminuiu 57%, e a intensidade da dor 40%. O surpreendente é que os resultados foram percebidos depois de as pessoas passarem apenas por um treinamento básico. Obviamente a experiência em laboratório está bem longe de amenizar a agonia inimaginável de queimar até a morte. Ainda assim, oferece algumas pistas para explicar o fenômeno. O fato é que a atenção plena favoreceu o sentimento de distanciamento e reduziu a experiência subjetiva da sensação da placa tocando a pele. Porém, ficamos intrigados a respeito de como esse processo se dá no cérebro.
A meditação ajudou a diminuir a atividade relacionada à dor no córtex somatossensorial primário e secundário. Participantes que sentiram redução na intensidade da aflição demonstraram aumento na ação da ínsula direita e nos dois lados do córtex cingulado anterior. Já aqueles que sentiram menor desconforto com a dor – o que de fato chama a atenção da maioria das pessoas – demonstraram maior ativação em regiões do córtex orbitofrontal e redução na atividade do tálamo, o que provocou alterações nos canais de membranas celulares que recebem informações sensoriais.
Essas técnicas milenares favorecem as habilidades mentais de controlar emoções e moldar o impacto de eventos externos sobre a mente. Isolando as regiões pré-frontais do cérebro, o caminho até o tálamo sofre alterações, o que reduz o fluxo de informações recebidas de regiões periféricas, levando à diminuição da sensação dolorosa. A capacidade de orientar o pensamento da forma como escolhemos fazê-lo não é mágica, sobrenatural ou transcendental – e pode ser aprendida e treinada. A questão é saber se somos suficientemente inteligentes e cuidadosos conosco para usufruir dessa vantagem neural.
Em 2008, o psicólogo Richard J. Davidson e sua equipe da Universidade de Wisconsin Madison publicaram um estudo clássico, com a participação de monges budistas, do qual Matthieu Ricard fez parte. Eles submeteram oito deles e dez estudantes ocidentais a exames de eletroencefalograma (EEG). Os voluntários receberam 128 eletrodos na cabeça que ajudaram a mapear seu cérebro. Depois, os monges foram convidados a atingir o estado de “bondade e compaixão incondicional”, também conhecida como “bodichita” (nesse tipo de meditação o praticante não se concentra em um único objeto, mas no amor e desejo de felicidade de todos os seres sencientes). Os outros voluntários deveriam pensar em alguém com quem se preocupavam profundamente e, em seguida, tentar generalizar os sentimentos que surgiam, direcionando-os a todos. Conforme os monges entraram em meditação, a atividade elétrica de alta frequência das ondas gama (entre 25 e 42 oscilações por segundo) aumentou e as ondas tornaram-se sincronizadas em todo o córtex frontal e parietal, conforme revelou o EGG. Muitos cientistas acreditam que essa seja a marca de grupos de neurônios “hiperativos” e aparentemente espalhados, tipicamente associados ao foco na atenção. De fato, a atividade gama desses monges é a maior conhecida (em condições saudáveis) e 30 vezes mais alta do que dos principiantes. Quanto mais tempo de prática meditativa, mais forte o poder estabilizador das ondas gama.
O que mais chamou a atenção foi o fato de que, mesmo em repouso e silêncio, fora do estado meditativo, os monges demonstraram atividade cerebral bem diferente da dos alunos. As técnicas praticadas pelos budistas há milênios para alcançar a serenidade e expandir a mente são realmente capazes de transformar o cérebro. Os efeitos foram mais evidentes naqueles com maior experiência.

No entanto, estudar teoricamente a meditação e seus efeitos não traz os benefícios de sua prática – e muito menos sabedoria. Inspirado no jovem Sidarta do romance de Hesse, deixei a comunidade monástica mais rico em conhecimento e aprendi outras maneiras de olhar o mundo. A minha busca continua.

Vamos meditar

A meditação mindfulness, uma maneira de focar no presente sem julgamentos, tem benefícios comprovados para a saúde e felicidade. Praticá-la diariamente pode ajudar a assumir esse modo mental com mais frequência e facilidade ao longo do dia, sem grande esforço. Veja a seguir exercícios de 10 a 15 minutos projetados para reforçar o foco (restrição da atenção) e o monitoramento aberto (ampla consciência das sensações ao redor).

O que fazer:- Sente-se em uma posição confortável, com a coluna ereta, de forma estável e descanse as mãos sobre as coxas ou, se preferir, una-as sobre o colo.
- Abaixe os olhos ou feche-­os, o que lhe parecer melhor.
- Respire pelo nariz de forma natural, sem forçar o movimento.
- Atente a sua respiração seguindo o trajeto do ar em seu corpo. Apenas observe o ar entrar nos pulmões e sair.
- Caso surjam outros pensamentos não se atenha a eles, deixe-­os ir e volte a atenção à inspiração e à expiração.
- Perceba as sensações em torno de sua barriga à medida que o ar flui.
- Após 5 ou 10 minutos, mude para o monitoramento. Imagine sua mente como um vasto céu aberto e seus pensamentos, sentimentos e suas sensações como nuvens passageiras.
- Sinta todo o corpo mexer-se suavemente com sua respiração. Seja receptivo a suas sensações, dê-se conta do que acontece no momento. Esteja atento para o que percebe: sons, aromas, a carícia de uma brisa, pensamentos, mas não se prenda a nada.
- Depois de aproximadamente cinco minutos, abra os olhos suavemente.

Sentiu-se bem? Então repita, pois só a prática frequente o fará familiarizar-se com essas sensações.

Saiba mais sobre os benefícios da meditação mindfulness e de outras técnicas na Mente e Cérebro n. 258, Atenção, concentração! Já nas bancas!

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Vai pra casa do c...

Como a vida é cíclica, e como as pessoas vivem num entra e sai das nossas vidas, em específico um certo rapaz aí, que tem muito que aprender com a vida, resolvi escrever um pouquinho aqui hoje. Há tempos não entrava aqui. Percebi que tinha que entrar hoje e ler alguns posts que fiz meses atrás. Finalmente eu enxerguei o real motivo de ter feito esse novo blog: criar vergonha na cara e crescer de vez.

Puta que o pariu, sim, falei palavrão, mas a vontade é de repetir várias vezes e dizer outros piores, mas cabe o bom senso. Mulher é tudo otária mesmo. Bando de cretinas e eu sou uma delas. Vida em sociedade é um caos. Cheia de regras boçais que julgam a todos e não definem ninguém.

Reli alguns textos aqui sobre comportamentos. Aff, isso cansa!
Tenho o direito de ser quem eu quero ser e fazer o que eu bem entender, afinal sou adulta, dona do meu nariz e pouco ligo para os preconceitos. A questão é que tá na hora de voltar a ser a mulher forte e decidida que sempre fui e parar de dar motivo para um borra-botas pensar que morro de amor por ele e que não tenho orgulho próprio. A decisão está mantida. Daqui para frente nada mais desse rapazinho. 

Ah, esse rapazinho! Hoje, dia primeiro de setembro, o que sinto por ele é raiva mesmo, raiva de ter me deixado iludir por alguém que nunca quis nada comigo além do óbvio. Nojo, nojo de mim. Sim, porque não? Nojo por ter me deixado usar de forma ridícula. Chega!

sábado, 24 de maio de 2014

Para matar um grande amor...

Jamil Snege

Muito se louvou a arte do encontro, mas poucos louvaram a arte do adeus. No entanto, não há gesto tão profundamente humano quanto uma despedida. É aquele momento em que renunciamos não apenas à pessoa amada, mas a nós mesmos, ao mundo, ao universo inteiro. O amor relativiza; a renúncia absolutiza. E não há sentimento mais absoluto do que a solidão em que somos lançados após o derradeiro abraço, o último e desesperado entrelaçar de mãos.

Arrisco mesmo a dizer: só os amores verdadeiros se acabam. Os que sobrevivem, incrustados no hábito de se amar, podem durar uma vida inteira e podem até ser chamados de amor, mas nunca foram ou serão um amor verdadeiro. Falta-lhes exatamente o dom da finitude, abrupta e intempestiva. Qualidade só encontrável nos amores que infundem medo e temor de destruição.

Não se vive o amor, sofre-se o amor. Sofre-se a ansiedade de não poder retê-lo, porque nossas cordas afetivas são muito frágeis para mantê-lo retido e domesticado como um animal de estimação. Ele é xucro e bravio e nos despedaça a cada embate, e por fim se extingue e nos extingue com ele. Aponta numa única direção: o rompimento. Pois só conseguiremos suportá-lo se ocultarmos de nossos sentidos o objeto dessa desvairada paixão.

Mas não se pense que esse é um gesto de covardia. O grande amor exige isso. O rompimento é sua parte complementar. Uma maneira astuciosa de suspender a tragédia, ditada pelo instinto de sobrevivência de cada um dos amantes. Morrer um pouco para se continuar vivendo. E poder usufruir daquele momento mágico, embebido de ternura, em que a voz falseia, as mãos se abandonam e cada qual vê o outro se afastar como se através de uma cortina líquida ou de um vitral embaçado.

Há todo um imaginário sobre os adeuses e as separações, construído pela literatura e pelo cinema. O cenário pode ser uma estação de trem, um aeroporto ( remember Casablanca), um entroncamento rodoviário. Pode ser uma praça ou uma praia deserta. Falésias ou ruínas de uma cidade perdida. Pode estar garoando ou nevando, mas vento é imprescindível. As nuvens devem revolutear no horizonte, como a sugerir a volubilidade do destino. Os cabelos da amada, longos e escuros, fustigam de leve seus lábios entreabertos. Há sutis crispações, um discreto arfar de seios. E os olhos, ah!, os olhos... A visão é o último e o mais frágil dos sentidos que ainda nos une ao que acabamos de perder.

Uma grande dor, uma solidão cósmica, um imenso sentimento de desterro. Que se curam algum tempo depois com um amor vulgar, desses feitos para durar uma vida inteira...

quarta-feira, 21 de maio de 2014

HC: o maior banco de cérebros do mundo

Publicado em: Jornal da Tarde (JT Cidade ) em 1 de Maio de 2011

HC: o maior banco de cérebros do mundo

Por Felipe Oda
Doar órgãos, como rins, pâncreas e coração, pode salvar a vida de muita gente. E doadores de cérebros também têm, indiretamente, esse poder. São eles que abastecessem o maior banco de cérebros do mundo, coordenado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), que reúne mais de 1,6 mil exemplares e ajuda a fomentar as pesquisas sobre doenças neurológicas no País.
Graças às amostras é que os pesquisadores conseguiram, por exemplo, identificar o acidente vascular cerebral (AVC), ou derrame, como principal causa de demência na cidade, quando antes se imaginava ser o mal de Alzheimer. A partir disso, foi possível desenvolver políticas públicas de prevenção contra os quadros associados à doença, como diabete e hipertensão (leia mais ao lado).
Pesquisadores internacionais também consultam o acervo da universidade, que funciona discretamente na Avenida Doutor Enéas de Carvalho Aguiar, no bairro Cerqueira César, região central. Ele é mantido no prédio do Serviço de Verificação de Óbitos da Capital (SVOC), órgão vinculado à USP.
O acervo, que guarda órgãos de pessoas com 50 anos ou mais, sadias e doentes, também ajuda os pesquisadores a compreenderem o processo de envelhecimento. "Só recebemos órgãos do Serviço de Verificação. Todos os casos são de causas naturais, quando o indivíduo morreu por causa de alguma doença", explicao professor do Departamento de Patologia da FMUSP e diretor do SVOC, Carlos Augusto Pasqualucci.
Os órgãos armazenados não são apenas os de pessoas que tiveram doenças neurodegenerativas diagnosticadas, explica a professora do Departamento de Enfermagem Médico Cirúrgica daFMUSP, Renata Ferretti. E isso é o que diferencia o Banco de Encéfalos Humanos, do Grupo de Estudos em Envelhecimento Cerebral da Faculdade de Medicina da USP (BEHGEEC), de outros acervo no mundo. "Bancos estrangeiros têm poucos "casos controles" (indivíduos normais). Aqui temos 60% da a mostra saudável e 40% de encéfalos com alguma doença neurológica", afirma.
Pesquisadores do BEHGEEC, Pasqualucci e Renata explicam que os cérebros são doados pelos familiares. "No exterior há programas de doação. A pessoa e a família doam o órgão em vida e ele é retirado quando o indivíduo morre. Aqui, como nem todos são atendidos pelos serviços de saúde, a doação só ocorre após a morte."
O trabalho do banco já despertou o interesse de vários centros de pesquisa. "Há parcerias dentro da USP e com outras instituições nacionais e internacionais", afirma Pasqualucci. Cientistas alemães, norte-americanos e portugueses costumam colaborar com pesquisas desenvolvidas no BEHGEEC - mantido pela USP e por agências fomentadoras de pesquisas científicas, como Fapesp, CAPES, CNPq e a americana Alzheimer"s Association.
Fundação
O banco da FMUSP não é o único no País. As universidades federais de São Paulo e Pernambuco também mantêm acervos - mas são amostrais e não contam com atualização constante como o BEHGEEC. "Trabalhar com o Serviço de Verificação nos ajuda. Realizamos cerca de 13 mil autópsias por ano", conta Pasqualucci.
Em funcionamento há oito anos, o acervo começou a ser coletado para teses acadêmicas. "Não tínhamos a intenção de montar o banco, mas precisávamos de uma metodologia que atendesse à necessidade de pesquisa", conta Renata, que desenvolveu o acervo em parceria com a patologista Lea Grinberg, coordenadora do Projeto de Envelhecimento Cerebral da USP.
Família determina a doação
Doações mantêm o acervo de cérebros. Dos cerca de 400 cadáveres com 50 anos ou mais que dão entrada anualmente no Serviço de Verificação de Óbitos da Capital (SVOC), apenas 1% não tem o encéfalo doado ao banco da FMUSP. "Nosso índice de recusa é muito baixo, mas existe", garante a professora Renata Ferretti.
É ela quem coordena a equipe que "convence" a família do paciente a doar o órgão. "Abordamos a família e explicamos todo o procedimento, assim como os estudos que serão realizados caso a família autorize a doação", diz. Após a liberação familiar, uma ficha clínica do indivíduo é preenchida e análises anatomopatológicas são realizadas. "Fazemos análise do perímetro, peso, volume e cálculo da densidade do encéfalo, entre outros exames", lista Renata.
A identidade e as informações do doador e parentes são preservadas. Apesar de o País considerar idoso apenas pessoas com 60 anos ou mais, o Banco de Encéfalos Humanos do Grupo de Estudos em Envelhecimento Cerebral da USP também coleta órgãos pré-senis. "Coletamos a partir dos 50 anos. É uma faixa de segurança, porque existe uma enorme dificuldade para se definir um marcador biológicoparaoinício do envelhecimento", afirma Renata.
Para armazenar o cérebro, os pesquisadores realizam um processo conhecido como fixação. "Precisamos interromper o processo de putrefação. É possível fazer isso quimicamente, com o uso do formol, e pela temperatura (-80° C)", esclarece o professor Carlos Augusto Pasqualucci. Os órgãos ficam aproximadamente 21 dias embebidos na substância química até poderem passar pela fixação.
Os próximos passos, segundo os pesquisadores, são: preparo de lâminas para análises microscópicas, coleta de material e congelamento. "Metade do encéfalo é congelada e a outra metade é utilizada para análises diversas (divididas em lâminas e pequenos pedaços)", detalha Renata.
Todo o acervo e informações coletadas ficam disponíveis - desde que exista a autorização dos familiares do doador - para pesquisas acadêmicas da FMUSP.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Como o cérebro guarda lembranças

Seu cerébro: Eis o que você é



por Lúcia Helena de Oliveira, de San Diego


Suas recordações de 1995 e seus planos para 1996, seus pensamentos mais lógicos e seus sonhos mais absurdos, seu talento para certas coisas e sua total inabilidade para outras, suas paixões, até seu jeito de falar e caminhar, tudo é pura química. São apenas substâncias diferentes que saltam de uma célula cerebral para outra, provocando correntes de eletricidade. Agora os cientistas começam a entender como essas mensageiras nervosas moldam a personalidade.

Uma dinamite explodiu por acidente durante a construção da ferrovia de Vermont, Estados Unidos, em 1848. O estouro projetou uma barra de ferro com tanta força que ela atravessou a bochecha de um dos operários, saindo pelo topo da cabeça. A vítima de 25 anos, Phineas Gage, sobreviveu. Mais do que isso, não sofreu nenhuma seqüela física, não perdeu a memória, não ficou com a inteligência alterada. Só que, em vez de continuar sendo um homem ponderado, passou a agir sem pensar nas conseqüências. Coisas que gostava de fazer, como ficar entre amigos, ele passou a odiar. Por mais de um século esse acidente raro foi considerado um enigma médico e quebrou também a cabeça dos cientistas. Recentemente é que eles começaram a entender o motivo da mudança: a personalidade de um indivíduo tem uma moradia, que fica logo atrás de sua testa. É o lobo frontal do cérebro, justamente a região danificada pela barra arremessada.
Esse e outros endereços cerebrais só foram bem localizados nos últimos cinco anos, graças a técnicas que mostram o cérebro com impressionante nitidez. Assim, comparando as imagens de pacientes com alterações de personalidade, os pesquisadores notaram que esse problema sempre tem a ver com lesões na mesma área machucada em Phineas Gage. “Começamos a entender o papel de cada região do sistema nervoso”, comemora a médica Carla Shatz, que presidiu o 25º Encontro Anual da Sociedade Americana de Neurociências.
Mais de 20 000 pesquisadores do mundo inteiro participaram do evento em novembro do ano passado, em San Diego, na Califórnia, marcando a metade de um gigantesco desafio. Em julho de 1989, o então presidente dos Estados Unidos George Bush assinou um decreto designando os anos 90 como a década do cérebro. A investigação do sistema nervoso passou a ser o principal foco de investimentos em saúde naquele país. E isso acabou se refletindo em laboratórios de vários cantos do planeta.
Conexões são a chave
“Resta saber como as regiões da massa cinzenta influenciam umas às outras”, diz Carla Shatz. Quando se retira quase metade do cérebro de uma criança por causa de doenças, o restante pode aprender o trabalho do pedaço extraído. Até os dez anos de idade, qualquer neurônio é um bom aprendiz, ligando-se a neurônios vizinhos para adquirir outras funções. Quanto mais jovem é alguém, maior a plasticidade dessas células – sua capacidade de criar conexões, que são a base das habilidades e da personalidade. Mas isso ainda não justifica a fantástica recuperação das crianças: de onde vêm as instruções para as tarefas, se as áreas que as realizavam não estão mais lá?
Um avanço foi demonstrar que “as experiências infantis ajudariam a esculpir a mente, mudando a organização dos neurônios”, segundo Ned Kalin, da Universidade de Wisconsin. Sua equipe separou filhotes de macacos de suas mães para provocar estresse nos recém-nascidos. Adultos, os ex-macaquinhos estressados se tornaram animais irritadiços. “Com seres humanos não deve ser diferente”, supõe Kalin. “O que acontece com um bebê pode mexer para sempre com o seu humor no cérebro.”
Quem não comunica se trumbica
O cérebro é mole e pesa cerca 1,3 quilo. Por meio de um microscópio eletrônico, é possível ver que ele parece um emaranhado de fios – os prolongamentos de seus 100 bilhões de neurônios. Estudos recentes mostram que eles são capazes de se multiplicar 250 mil vezes por minuto nos dois primeiros meses de gestação. Mas provavelmente metade morre antes de o bebê nascer, como se apenas os mais sociáveis, aqueles que se comunicam direito, pudessem seguir em frente.
“Durante muito tempo, a gente se preocupou em observar como os prolongamentos dos neurônios cresciam para formar sinapses, isto é, para encontrar outros neurônios que muitas vezes estavam a centímetros de distância”, conta a pesquisadora Story Landis, do Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos, nos Estados Unidos. “É fascinante que durante o desenvolvimento do sistema nervoso uma célula ‘saiba’ em que direção estão as destinatárias de suas mensagens”, diz a cientista que, no entanto, já não considera isso o mais importante. “OK, dois neurônios esticaram seus prolongamentos no rumo certo até se encontrarem, mas a partir daí como decidem em que língua irão conversar?”, pergunta.
A linguagem das células nervosas são moléculas chamadas neurotransmissores. De um lado, o neurônio transmissor deve começar a fabricá-las escolhendo entre mais de cinqüenta tipos. E, de outro, o neurônio interlocutor deve criar receptores para encaixá-las perfeitamente em sua membrana. “Se esse acordo inicial não for bem feito, há muita chance de problemas – emocionais, de memória, de raciocínio”, afirma Dennis O’Leary, do Instituto Salk, em San Diego. “Embora possam parecer coisas bem diferentes, todos esses processos não passam de um bate-papo entrosado, em que não faltam nem sobram neurotransmissores.”
Os traumas marcam os neurônios
Muitas vezes, quando a cabeça da gente não vai lá muito bem, não faltam moléculas mensageiras e, sim, receptores para elas. Tanto um problema como o outro, no início, eram atribuídos a defeitos nos genes. Esse ano, na conferência de San Diego, os cientistas constataram que nem sempre é assim. Em muitos casos, os genes fizeram seu serviço direito e o cérebro nasce de bem com a vida. Mas depois as coisas saem dos eixos. Em ratos, ao menos, o estresse constante causa danos em duas estruturas cerebrais envolvidas com a emoção – a amígdala cerebral e o hipotálamo. Coincidência ou não, os ratos com lesões são muito mais medrosos, de acordo com pesquisadores da Universidade de Wisconsin.
“A mesma substância associada ao estresse dos ratos – um hormônio chamado CRF produzido pelo próprio cérebro – é mais encontrada no organismo de quem passou por fortes experiências traumáticas: estupros, assaltos e catástrofes como terremotos”, afirma o médico americano Charles Nemeroff, da Universidade Emory. Ele e seus colegas passaram o último ano examinando vítimas desses episódios traumáticos com ressonância magnética. E notaram que elas apresentam a glândula hipófise ligeiramente maior do que a média da população, enquanto o hipocampo costuma ser menor. “Vários estudos indicam que o estresse psicológico intenso produz alterações sem volta”, diz à SUPER Dennis Charney, da Universidade Yale, nos Estados Unidos. “O que antes seria razão apenas para melancolia passa a ser motivo de uma profunda depressão, por causa dessas alterações. A tendência em Medicina é assumir que a maioria das vítimas de traumas vai precisar tomar remédio para sempre, como um diabético necessita de insulina”.
Cobaia vira fera
Sem dúvida, a mais badalada substância ligada aos sentimentos é a serotonina. Seu nome já aparecia quando o assunto era tristeza. Agora, ela está sendo acusada de ser a responsável por todo tipo de comportamento agressivo. “Na verdade, é a falta dessa molécula que está sendo associada à violência”, esclarece Frederick Moeller, professor da Universidade do Texas que submeteu um bando de ratinhos a uma dieta pobre em triptofano – proteína sem a qual o cérebro não consegue fabricar esse neurotransmissor. E, nessas condições, as cobaias ficaram umas feras.
Outro pesquisador americano, David Goldman, do Instituto Nacional de Saúde Mental, descobriu um defeito genético em determinados receptores de serotonina. “Em tese, se o paciente tem o defeito, a molécula não age direito e o comportamento agressivo tende a aumentar”, diz Coleman, que estudou 81 alcoólatras violentos na Finlândia. Em três deles, o gene do receptor era anormal.
Sentimentos alteram o pensamento
Se o cotidiano pode mudar nossa maneira de sentir, a recíproca é verdadeira: os sentimentos alteram o raciocínio e a percepção do dia-a-dia. Pesquisadores do Instituto Weizmann, em Rehovot, Israel, provaram que as emoções fazem a gente ver o mundo de um jeito diferente. “Voluntários tinham que descrever fotografias, enquanto monitorávamos a área cerebral da visão”, diz à SUPER Armando Arieli, chefe da equipe. “Antes, fizemos entrevistas para saber se tinham alguma preocupação ou se estavam ansiosos mesmo que fosse por um motivo positivo. E, de cara, podíamos prever um padrão para as ondas cerebrais”, conta. Isso porque os exames apontam que existe um gráfico das ondas típico para cada estado de espírito.
Cabeça na lua
Os cientistas já sabem, por exemplo, que a alegria muitas vezes dificulta as coisas. Imagens de ressonância magnética mostram que as áreas ligadas a cálculos e raciocínio lógico podem funcionar devagar quase parando se as células nervosas estão banhadas de endorfinas e outras substâncias conectadas ao contentamento – é a tal impressão de estar com a cabeça no mundo da lua.
Mas há uma área cerebral que nunca trabalha menos: é o tálamo. Ele agora é considerado um órgão fundamental para a sensação de ter consciência – a noção de que você sabe quem é, o que faz e o que pensa a cada instante. O tálamo funciona como um radar, captando todas as informações ao redor. Só que a gente não tem consciência de tudo. Os dados despercebidos podem estar arquivados em algum local ainda indefinido – o inconsciente. Mas também existe a suspeita de que muita coisa é mesmo jogada fora.
Nesse sentido, cientistas da Universidade de Dusseldorf, na Alemanha, liderados por Joseph Huston, fizeram uma descoberta: ao se destruir um pequeno grupo de neurônios de ratos, os bichos ficam mais espertos e aprendem mais depressa. Como poderia uma lesão causar algum benefício? “As células eliminadas são justamente as produtoras de histamina. Talvez essa substância seja uma espécie de cadeado impedindo que o cérebro guarde tudo o que vê, ouve ou sente”, explica o professor Huston.
Ligada aos processos alérgicos, a função da histamina já era bastante conhecida no resto do corpo. O que ninguém sabia é o que ela estaria fazendo em pleno sistema nervoso, no qual foi flagrada há três anos. A experiência de Dusseldorf pode ser a explicação: “Provavelmente seu papel é protetor, deixando que um indivíduo memorize apenas o que é essencial ou do seu interesse.”
Andar de bicicleta
Outra revelação é a do papel do cerebelo no raciocínio. Essa estrutura com jeito de concha, próxima da nuca, era conhecida por comandar gestos automáticos como um piscar de olhos. Mas parece que o cerebelo também participa do aprendizado. “Dentro dele, existem células especializadas em memorizar movimentos”, garante o professor William H. Tach, da Universidade de Washington. “É ele o responsável por aquela história de que aprendemos a andar de bicicleta uma vez e depois nunca esquecemos.”
A experiência da pesquisadora Julie Fiez, também da Universidade de Washington, é mais impressionante Ela pediu que pacientes com danos no cerebelo realizassem a seguinte tarefa: ao ouvirem um verbo como chutar os voluntários tinham que associá-lo a um substantivo, como pé ou chuteira.“Em pessoas normais as respostas são cada vez mais rápidas, pois elas logo se acostumam com a tarefa”, conta Julie. “Mas com o cerebelo afetado, parece não haver melhora. Ou seja, a estrutura deve ser fundamental para se automatizar qualquer coisa, como as regras de um jogo, e não apenas memorizar os movimentos.”
Doença mental pode ser prevenida
Todo o interesse em ver como o cérebro funciona é para aprender por que muitas vezes ele não funciona bem. Está aí a intenção prática da década do cérebro. Existem em torno de 1 000 distúrbios mentais conhecidos – de depressão à esquizofrenia, passando por dificuldades diversas de aprendizado. Em cada cinco habitantes do planeta, um já teve ou tem algum desses problemas, cujo tratamento custa muito dinheiro e pode ser ineficiente, uma vez que tudo ainda carrega certa aura de mistério.
Hoje os cientistas procuram, por exemplo, moléculas que fixam lições de casa. Claro, não servirão de remédio para crianças normais, mas para aquelas com grandes dificuldades em gravar idéias na mente. Uma droga assim poderá ser testada antes do final desta década em homenagem ao sistema nervoso.
Estresse atrapalha a memória
A ciência também pretende frear o envelhecimento cerebral. Nos últimos cinco anos descobriu-se muita coisa sobre a perda de memória que aparece em menor ou maior grau na terceira idade. Não há mais duvida: os hormônios despejados no corpo durante o estresse do dia-a-dia vão estragando aos poucos o hipocampo. E daí essa região ligada à fixação das lembranças já chega à idade madura bastante estropiada. “Assim como os cardiologistas ensinaram os jovens a comer menos gorduras para evitar infartos no futuro”, diz a neurologista americana Carla Shatz, “nós vamos mostrar que uma juventude menos estressada é fundamental para manter o cérebro saudável na velhice.” Além disso, os pesquisadores estão investigando moléculas que os neurônios secretam durante o sono para arquivar novas memórias. Se forem reproduzidas em laboratório, surgirão remédios capazes de acabar com as dificuldades de lembrar.
A área de pesquisa mais obscura ainda é a da esquizofrenia, doença em que o paciente tem bruscas alterações de humor, não consegue formular pensamentos com lógica e, freqüentemente, sofre alucinações. Só agora seus mecanismos começam a ser esboçados pela ciência. Estudos indicam que os esquizofrênicos têm uma atividade exagerada em certas áreas cerebrais, como a frontal. “Até agora os médicos apenas vinham presumindo pelos sintomas que o paciente era ou não um esquizofrênico”, conta a psiquiatra Carol Tamminga, do Centro de Psiquiatria de Maryland, nos Estados Unidos.
Volta ao normal
A médica está animada com as imagens desordenadas do cérebro esquizofrênico. “Se a gente entender o que essa doença tem de diferente em relação ao padrão normal, vamos fazer diagnósticos mais objetivos”, especula Tamminga. “O mais importante, porém, será o trabalho de prevenção, pois poderemos detectar e tratar gente com o problema antes de as crises aparecerem.”
Uma em cada cem pessoas sofre de esquizofrenia – e em 89% dos casos os sintomas aparecem entre os 15 e 25 anos de idade. “Antigamente, essa gente era rotulada de louca. Hoje seu problema é comparado à hipertensão, ou seja, a um distúrbio que, em tese, pode ser corrigido com medicamentos”, diz a médica. Até o momento, as drogas mais eficientes em testes são aquelas que se encaixam nos receptores do neurotransmissor dopamina, impedindo que ele aja. “Não tenho dúvida que a dopamina está envolvida nesse processo”, diz o psiquiatra inglês Raymond Dolan, do Instituto de Neurologia de Londres. “A questão é que, como em muitos distúrbios mentais, devem existir vários fatores envolvidos. E estamos apenas começando a trajetória para decifrá-los. Será uma década sem fim.”
Para saber mais
Healing and the Mind, Bill Moyers, Doubleday Editors, Nova York, 1995

A divisão do trabalho na nossa cabeça

Graças a técnicas recentes como a ressonância magnética, que permite ver quais áreas do sistema nervoso estão ativadas quando se realiza determinada tarefa, é possível traçar um mapa mais preciso das funções de cada parte do cérebro
Departamentos da emoção

Área da sensibilidade
Uma série de estruturas forma o sistema límbico que controla os órgàos do corpo. Como aqui também são produzidas as emoções, essas sempre influenciam o funcionamento do organismo.

Gravador
O hipocampo grava memórias que, depois, são arquivadas em toda a massa cinzenta. A gravação sai melhor ou pior conforme a quantidade de moléculas produtoras de sentimentos. Elas são fixadores de recordações. A exceção são as substâncias do medo, que às vezes têm efeito oposto: sob a influência delas, o hipocampo pode fazer um episódio aterrorizante cair no esquecimento.

Gerador de sentimento
Parte do sistema límbico, a amígdala cerebral é a principal produtora das emoções.

Elo com o corpo
O hipotálamo traduz o que se sente: ordena uma descarga de hormônios e pode fazer o coração acelerar.

Onde o serviço acumula
Desigualdade
A massa cinzenta não tem a mesma aparência nos dois lados. A área lateral ligada à audição é a prova: ela costuma ser mais espessa no hemisfério esquerdo, que tem a tarefa extra de decifrar o que os outros falam.
É sempre assim: as regiões do córtex que mais trabalham crescem mais. Talvez por isso os músicos tenham áreas de audição mais desenvolvidas do que a média da população.
Os ventrículos são reservatórios do fluido que banha os neurônios

A sede da consciência
Na ilustração ao lado o que se vê é o córtex, a camada externa, com cerca de 8 milímetros de espessura. Só quando as informações chegam nessa superfície é que se tem consciência delas. No córtex também ficam as funções mais nobres, divididas em quatro áreas de cada lado, chamadas lobos

Ponto de encontro
Logo atrás da testa fica o lobo frontal, onde a razão e a emoção se encontram. No cérebro, esses dois conceitos são inseparáveis, pois toda atitude ou decisão (como ir a uma festa) ativa as moléculas envolvidas com sentimentos (ansiedade, alegria ou mesmo raiva, se você não queria sair de casa). Nessa região também fica a capacidade de falar.

Local da agitação
O córtex motor comanda os movimentos. Mais de 60% dele são dedicados à face e às mãos, áreas do corpo que realizam a dança muscular de gestos, caras e bocas.

Área dos sensores
O lobo parietal, no alto da cabeça, interpreta as informações sensoriais, como sinais de calor ou de frio no ambiente.

Lugar das paisagens
As imagens percebidas pelos olhos são analisadas no lobo occipital.

Zona do barulho
Tanto na lateral esquerda como na direita encontra-se o lobo temporal, envolvido com o aprendizado de qualquer coisa, especialmente o da linguagem. Faz sentido, porque aqui também são processadas as informações sonoras captadas pelos ouvidos.

Fábricas de idéias
Os personagens principais
Qualquer pensamento é produzido pelos neurônios, as células cerebrais que lembram um cometa. A cauda, no caso, tem centenas de ramificações chamadas dendritos, que captam sinais de outros neurônios. Os sinais são correntes elétricas que percorrem toda a célula até alcançarem outros prolongamentos, chamados axônios, ao redor de seu corpo. “Ali, a eletricidade faz com que bolsinhas internas ou vesículas acabem se fundindo com a membrana”, descreve o professor italiano Pietro DeCamilli, da Universidade Yale, nos Estados Unidos. Então, as bolsas estouram liberando moléculas de neurotransmissor. Parte delas é reabsorvida. Outra parte salta um espaço microscópico e se encaixa em receptores feito fechaduras do neurônio vizinho. O encaixe vai disparar a corrente elétrica nessa segunda célula e começa tudo outra vez. “O ciclo completo é chamado sinapse”, explica DeCamilli.

Rede de comunicação
Supercomputador
O tálamo se comunica com o córtex para captar e somar todas as informações conscientes em determinado instante.

Troca de informação
O corpo caloso liga os dois hemisférios cerebrais. Serve de ponte para que as informações do lado esquerdo alcancem o lado direito e vice-versa.

Ordens químicas
A hipófise é a glândula-mãe. Ela recebe os sinais nervosos do hipotálamo e os repassa na forma de comandos químicos para todas as glândulas do corpo.

Quem dá o ritmo
O cerebelo se comunica com os músculos para sincronizar os movimentos. Assim, controla até que ponto você precisa estender o braço para cumprimentar alguém.

Cabo de transmissão
A medula transmite os comandos cerebrais para o restante do organismo.

Dois motivos para ficar com raiva

Por trás de qualquer ato de violência existe a deficiência de uma molécula chamada serotonina. Veja quais podem ser as causas
Ou falta matéria-prima...


1. A fábrica
A serotonina, molécula reguladora das emoções, é montada dentro do neurônio.

2. O ingrediente
Para isso, o neurônio junta moléculas de uma proteína chamada triptofano.

...Ou o encaixe é defeituoso

Quem é calmo...
Normalmente, a serotonina se encaixa perfeitamente nos neurônios das áreas ligadas às emoções.

...E quem é agressivo
Às vezes, pode ser que não falte serotonina no cérebro. Mas, em certos indivíduos, ela não se encaixa direito nos receptores. Então, não consegue agir. Talvez exista gente que já nasce com receptores defeituosos e, portanto, com tendência à violência.

3. Os fornecedores
O abacaxi e o leite são ricas fontes de triptofano. Sem ele, a tendência a ficar nervoso aumenta.

Emoções criadas em laboratório

Surge uma nova geração de remédios para os distúrbios mentais. São moléculas que intereferem nas substâncias ligadas aos sentimentos
As imagens ao lado são do mesmo indivíduo. As manchas vermelhas e amarelas são áreas de baixa atividade. A foto superior é um retrato nítido de depressão . O paciente, depois, tomou drogas da família do Prozac, que inibem a serotonina. Pois a falta dela causa agressividade, mas o excesso provoca um tremendo desâmino. Na imagem inferior , após a medicação, as áreas cerebrais de pouca atividade diminuíram.

A maquilagem da mente
Como agem os medicamentos que modulam o estado de espírito

1. Centro da emoção
A amígdala cerebral e o hipocampo são as estruturas que mais liberam substâncias produtoras dos sentimentos.

2. Regulagem
Nas células dessas regiões é importante que não faltem nem sobrem substâncias como a serotonina. Caso contrário, o desequilíbrio químico se tornará instabilidade mental

3. Substituição
Quando o problema é causado pelo excesso de certas moléculas, como na depressão, o remédio deve bloqueá-las, muitas vezes ocupando seu lugar nos receptores 1.

4. Estímulo
Quando algum distúrbio mental é provocado por uma deficiência – como a falta de setoronina no caso da violência – o ideal é criar um remédio que estimule sua produção 2.

Sinais do mundo em que vivemos

Onde estamos? O que fazemos? É o tálamo, uma estrutura no meio do cérebro, que nos fornece essas respostas a cada instante, sem parar, criando a sensação conhecida por consciência
O radar interno

Os cientistas descobriram que o tálamo emite sinais elétricos comparáveis 1 a ondas de radar. Os sinais vão em direção à superfície cerebral chamada córtex, fazendo uma varredura no sentido da testa para a nuca 2. Quando encontram uma das áreas do córtex ativada, voltam ao tálamo, repetindo a informação 3. Assim, vamos imaginar um indivíduo numa praia. O tálamo vai captar, primeiro, os sinais de cheiro de mar, na região especializada em olfato 4. Em seguida, o calor do sol registrado na parte do córtex que capta informações de temperatura ambiente. Ao tálamo também chegam a sensação de estar caminhando 6, o som do latido de um cachorro que passeia na areia 7, a visão do lugar 8. Em menos de um décimo de segundo, as informações são somadas, criando a consciência 9.

Células vão ficando boas de papo

A gente também ouve com os olhos, segundo os pesquisadores que investigam como o sistema nervoso desenvolve a linguagem
Quando se aprende a falar, o córtex visual 1 e a área da audição 2 são ativados, como mostram as manchas vermelhas na imagem ao lado. Mais tarde, a criança repete algumas palavras, acionando os centros da fala 3. E quando expressa idéias complicadas bota quase todo o córtex para funcionar 4.

Como a gente fala e os pássaros cantam

Estudos indicam que a fala humana e o canto dos pássaros se desenvolvem de um jeito parecido.
Como a gente fala e os pássaros cantam

Estudos indicam que a fala humana e o canto dos pássaros se desenvolvem de um jeito parecido

Abertos a novidades
O passarinho recém-nascido pode aprender o canto típico de seus pais. Mas se entrar em contato com outra espécie, também aprenderá o jeito de cantar estranho. A princípio, o ser humano recém-nascido também pode gravar perfeitamente sons de qualquer língua.

De orelha em pé
Mais tarde, os filhotes de aves ficam desconfiados quando ouvem sons diferentes e tendem a só prestar atenção no canto da sua espécie. O cérebro da criança também passa a só gravar sons mais comuns – justamente os sons da sua língua.

Feito papagaios
Pássaros e crianças, na etapa seguinte, repetem os sons dos adultos. Isso marcará o cérebro de ambos para sempre, criando conexões de neurônios. A criança, ao se tornar adulta, jamais perderá o sotaque de sua língua de origem. Experiências em que os cientistas tentaram ensinar cantos estranhos para pássaros maduros mostraram que, quando eles conseguem aprender, o “sotaque” estrangeiro também é inevitável.

O retrato nítido da esquizofrenia

Só a partir de 1993 é que os cientistas começaram a ver o sistema nervoso em plena ação. Agora surgem imagens impressionantes, como a das alucinações
Com as idéias no lugar certo

Esta é a imagem do cérebro de um indivíduo normal. As áreas amarelas são as que estão recebendo mais sangue – portanto as que estão ativadas. Geralmente, as pessoas têm esse padrão

Com tudo em desordem
Este é um cérebro com alucinações. Embora o exame tenha sido feito em um ambiente silencioso, as áreas da audição, nas laterais, estão mais ativadas do que o normal – isso indica que o paciente está ouvindo vozes que não existem.

O que esperar para o ano 2 000

Até o final da década, os pesquisadores prometem muitas novidades no tratamento de doenças
Derrame

A mancha vermelha é um derrame. Além da área afetada pelo vazamento de sangue, os neurônios nas vizinhanças do acidente se suicidam, aumentando os estragos. Mas drogas para evitar o suicídio celular, diminuindo as seqüelas, serão testadas este ano.

Alzheimer
As manchas escuras abaixo são áreas em que os neurônios degeneraram por causa do Mal de Alzheimer, que destrói rapidamente o raciocínio – efeito nefasto que será retardado em cinco anos com novos remédios em testes.

Epilepsia
Uma espécie de marca-passo poderá ser implantado no cérebro para normalizar as transmissões nervosas ao menor sinal de alterações. Isso evitará os ataques epilépticos.

Vícios
Devem surgir moléculas criadas em laboratório que se encaixam no mesmo lugar do álcool ou da cocaína nos neurônios, curando a dependência, sem sofrimento para o viciado.

O controle de todo o corpo

Direta ou indiretamente, o cérebro comanda o funcionamento de todos os órgãos do corpo, por meio de hormônios ou de sinais nervosos. Se não faz isso direito, surgem doenças
Parecidas com sementes, oito pequenas estruturas de nome complicado – órgãos circunventriculares – controlam todos os cantos do corpo. Uma delas, a mais próxima da nuca, conhecida por área postrema, passou a ser muito estudada. Não é à toa: ela controla a pressão do sangue nas artérias. O tempo todo, seus sensores estão analisando a quantidade de certas substâncias no sangue. Conforme o que encontram, os sensores disparam sinais. ”É possível que várias doenças tenham de ser tratadas diretamente no cérebro”, diz Alan Kim Johnson, da Universidade do Iwoa, nos Estados Unidos. A pressão, então, deveria ser regulada com drogas que atuem na área postrema.

Para cima
Quando moléculas de um hormônio chamado angiotensina se encaixa nas células da estrutura cerebral, elas logo disparam uma ordem para as paredes de cada vaso sangüíneo do corpo se contrair, aumentando a pressão.

Para baixo
Por sua vez, quando a pequena estrutura percebe que existem muitas moléculas de vasopressina no sangue – outra substância que faz a pressão aumentar – ela envia uma ordem para os vasos sangüíneos relaxarem. Assim, se tudo vai bem no cérebro, a pressão de um indivíduo nunca está alta nem baixa demais
.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

socialização: reforço e modelagem

A observação de reflexos inatos ou condicionados envolve os estímulos (reforçamentos) como parte do processo de aprendizagem, onde o desempenho está associado à modelação, pelo incentivo à habituação, onde o comportamento é escolhido, modificando o meio, gerando aprendizagem incluindo a domesticação.
Segundo Vila e cols. (1997), os seres humanos têm exercido controle de reforços aos animais usando comida e água, há muito tempo; dessa forma os cães passam a responder não apenas de acordo com as contingências do meio, mas, preferencialmente, de acordo com aquelas eliciadas pelos humanos (Udell & Wynne, 2008).
Além desta ontogenia, as pessoas têm sido responsáveis pelo controle filogenético dos cães, que são selecionados por cruzamentos planejados para refinamento de características comportamentais ensejados pelos criadores (Udell & Wynne, 2008). Assim, a domesticação explica a disposição dos cães em responder às contingências humanas (Udell & Wynne, 2008), uma vez que os cães obedientes são preferidos para a reprodução comercial quanto para a companhia dos donos.
No toque do trato que envolve as habilidades sociais e comunicativas com os animais, diante da inibição do animal, o foco está na indução à estimulação de tarefas aonde se elicia uma modificação no comportamento inato pelo condicionamento que inclui a possibilidade de exclusão (pôr em extinção outro comportamento), cuja generalização denota uma interrelação do animal com os que o cercam após condicionado.
Muitos teóricos têm discutido sobre as habilidades sociais e comunicativas entre homens e cães (Cooper, Ashton, Bishop, West, Mills, & Young, 2003; Wobber, 2005). Também, Tem-se verificado que os cães resolvem tarefas envolvendo gestos comunicativos de treinadores de forma mais fácil que primatas não-humanos (e.g. Soproni, Miklósi, Csányi, & Topál, 2001).
Segundo (Kaminski e cols., 2004), há indícios de que os cães podem responder por exclusão similar aos  humanos, tendo sensibilidade para responder aos controles emitidos por humanos (Call e cols., 2003).
Conforme Dixon, (1977), os cães podem responder por exclusão, definido brevemente qual a escolha da alternativa correta, não respondendo às demais.
Zimen (1981) ressalta que a inteligência dos cães varia conforme as raças aonde algumas são mais sensíveis a treino e aprendizado de comandos.
Entre a satisfação do reforço e a punição (que envolve a integração entre homem e animal), numa possível situação de fuga, existe uma lei do efeito, aonde em tentativas e erros, se percebe uma motivação no sentido de que a gratificação dá exibição de sinais de condicionamento operante.
Conforme Kitagawa & Coutinho (2004),a  integração homem-cão, tem sido benéfica para a saúde física e saúde mental do ser humano, proporcionando relaxamento e carinho com o animal de estimação.
Além disso, Wilsson & Sundgren (1997) afirmam que o cão passou a ser treinado para execução de atividades conforme o potencial apropriado, gerando um grande número de raças obtidas no controle e manipulação genética por seleção de indivíduos e cruzamentos programados para obter destaque em características desejadas.
Conforme Range et al. (2008) os cães respondem discriminadamente a classes de estímulos visuais, em comportamento pré-simbólico e simbólico, tendo em vista as prováveis semelhanças comportamentais (Cooper et al., 2003; Wobber, 2005).
Segundo o Dicionário de Psicologia APA, a Modelagem é a produção de novas formas de comportamento operante pelo reforço de aproximações sucessivas ao comportamento; também denominado approximation coditioning; modelagem comportamental.
A modelagem é uma variedade de seleção que seria o paralelo ontogenético da seleção filogenética que ocorre na evolução biológica (Donahoe, Burgos, & Palmer, 1993). Essa relação é mais óbvia quando usada por um treinador humano, como no ensino de habilidades a um cão (...) (Cf. Pryor, 1985; Squier,1993).

Diferença Entre a Psicologia Comportamental e a Análise do Comportamento

A Psicologia Moderna é uma área do conhecimento que em 2009 fará 130 anos. Fundada em 1879 quando o alemão Wilhelm Wundt criou o primeiro instituto de psicologia experimental dotado de laboratórios na Universidade de Leipzig em seu país é uma área muito ampla que possui diversas escolas de pensamento, áreas de pesquisa e que pode se aplicada em diversos contextos. Muitos leigos, estudantes e até mesmo profissionais de Psicologia em decorrência dessa amplitude confundem os conceitos de Psicologia Comportamental e Análise do Comportamento. A maioria acredita se tratarem da mesma coisa.
O objetivo deste artigo é mostrar que a Análise do Comportamento é uma área definida do conhecimento humano enquanto o termo “Psicologia Comportamental” é uma palavra genérica que não diz muita coisa. No máximo podemos dizer que a Análise do Comportamento está inclusa dentro da Psicologia Comportamental não significando, portanto que são a mesma área.
Starling (2003), uma dos maiores Analistas do Comportamento do Brasil, afirma que
“‘Psicologia Comportamental’ é uma denominação excessivamente genérica. De uma maneira imprópria, esta denominação pode englobar visões de mundo, pressupostos e conjuntos tecnológicos muito diferentes, muitas vezes incompatíveis entre si, tais como, por exemplo, o behaviorismo primitivo tal como formulado por Watson em 1913 e conhecido como Behaviorismo S-R, o behaviorismo mentalista de Hull e o behaviorismo mediacional de Tolman, a análise do comportamento de inspiração skinneriana, o neobehaviorismo metodológico que encontra sua expressão mais madura nos cognitivismos contemporâneos, o conjunto eclético e empirista das chamadas ‘comportamentais-cognitivas’ e ainda outras práticas que eventualmente usam o adjetivo ‘comportamental’ para qualificar, muitas vezes inapropriadamente, o seu substantivo. Assim, embora de uso comum por profissionais estranhos à área, a denominação ‘psicologia comportamental’ simplesmente não faz sentido e não se pode saber o que se deve entender por ela”.
Com respeito á Análise do Comportamento Starling (2003) afirma que “a Ciência do Comportamento [Análise do Comportamento] constitui um campo disciplinar por direito próprio, uma ciência natural, com afinidades epistemológicas, conceituais e metodológicas com a física, a química e a biologia contemporâneas”.
Falcone (2004) ao diferenciar a prática clínica de Analistas do Comportamento (também chamados de Behavioristas Radicais) e dos Psicólogos Cognitivistas - Comportamentais afirma que
Uma diferença entre cognitivistas e behavioristas parece estar no nível de rigor científico que permeia os conceitos teóricos de ambos os enfoques. Para os behavioristas radicais, aceitar o uso da palavra ‘cognição’ seria aderir a uma postura dualista, o que constituiria um sério problema metodológico. Deste modo, a referência às reações cognitivas como ‘comportamentos encobertos’ foi uma estratégia brilhante que estendeu o modelo operante à compreensão de fenômenos mais complexos. Cognitivistas-comportamentais também consideram as cognições como um sistema de respostas, mas não de uma forma tão compromissada com contingências e com termos precisamente impostos. Embora preocupados com validade empírica e expressão de conceitos operacionais, eles não são tão rigorosos do ponto de vista científico. [...] Outra diferença encontrada entre cognitivistas e behavioristas está na ênfase dada às contingências ambientais e às cognições. Enquanto o primeiro grupo busca encontrar crenças subjacentes para entender de que maneira as reações cognitivas influenciadas pelas afetivas/fisiológicas e comportamentais, o segundo processo procura saber que tipos de contingências levariam um comportamento a ocorrer e a influenciar outro comportamento. Deste modo behavioristas radicais enfatizam a determinação ambiental na compreensão dos comportamentos (abertos e encobertos) do indivíduo, enquanto cognitivo-comportamentais priorizam os processos cognitivos, considerando que o homem reage a um ambiente percebido e não a um ambiente real”.
Se levarmos em consideração essas colocações perceberemos que é um erro teórico confundir Psicologia Cognitiva - Comportamental ou Comportamental - Cognitiva com Análise do Comportamento.
No máximo podemos dizer que a Psicologia Cognitva-Comportamental é um tipo de Psicologia Cognitiva que se utiliza intensivamente de tecnologia criada pela Análise do Comportamento, mas que apesar disso continua sendo um tipo de Psicologia Cognitiva, pois não é embasada pelo Behaviorismo Radical - a filosofia de ciência que embasa a Análise do Comportamento.
Esse tipo de Behaviorismo é radical por que nega que os eventos mentais causam o comportamento humano e que aqueles tenham uma natureza diferente destes. Assim nega a existência de todos os eventos que não tenham uma explicação natural e aceita, obviamente, todos os eventos que tenham essa propriedade.
A Análise do Comportamento é uma Ciência Natural que se divide em três partes
O seu braço teórico, filosófico, histórico, seria chamado de Behaviorismo Radical. O braço empírico seria classificado como Análise Experimental do Comportamento. O braço ligado à criação e administração de recursos de intervenção social seria chamado de Análise Aplicada do Comportamento”. (TOURINHO, 1999 apud CARVALHO NETO, 2002)
Uma das marcas mais interessante da Análise do Comportamento é sua aplicação que está difundida em vários contextos. Starling (2003) afirma que a Análise do Comportamento é constituída de várias áreas de intervenção
“Da Modificação do Comportamento, da Intervenção Clínica Analítico-comportamental, da Tecnologia do Ensino, da Análise Comportamental das Organizações (Organizational Behavior Management ou Performance Appraisal), da Medicina do Comportamento e da Análise Funcional da Enfermidade (contextos médico-hospitalares) além de aplicações particularizadas, tais como em problemas sociais (Behavior Analysis for Social Action), autismo, engenharia de segurança, marketing, etc.”
O mais importante de tudo é entendermos que não podemos falar do que não sabemos. A psicologia brasileira e especialmente a piauiense carece muito de aprofundamento teórico e na grande maioria das vezes os erros cometidos por estudantes e profissionais de Psicologia derivam da falta de leitura e compreensão das escolas de pensamento que fazem a Psicologia.
Starling (2003) afirma que
“É somente através do conhecimento da matriz conceitual como um todo, na plena articulação dos seus componentes, que se pode apreciar criticamente a ciência do comportamento [Análise do Comportamento] e talvez por isso, e por ser um campo lingüístico muito recente (tem menos de 50 anos), é uma proposição ainda virtualmente desconhecida, mesmo no meio profissional da psicologia e áreas afins. O pouco que habitualmente se conhece – e se critica - restringe-se o mais das vezes a um entendimento fragmentário do primitivo Behaviorismo S-R (estímulo-resposta), já há muitas décadas de interesse somente histórico para o analista do comportamento.”